quinta-feira, 19 de maio de 2022

Desconfianças



Olá queridos, estou de volta! 

Eu já falei anteriormente como foi meu diagnóstico para epilepsia mas para o autismo? Bom foi o antes, o hiato e o depois. 

Vou começar pelo hiato pois fará mais sentido. 

Nunca fui uma criança como as outras, começando lá atrás mesmo aonde, segundo minha mãe, eu não gostava de colo. 

Indo em um lugar mais distante chegarei no dia em que nasci. Ainda, segundo a minha mãe, eu não adormeci em momento algum. 

Chorei a noite toda, das 20:30 do dia 08 de julho até a manhã do dia 09!

Acordei o berçário inteiro e a enfermagem sequer descansou (desculpa gente). Se fosse hoje isso já seria um motivo de alerta mas estamos ainda na década de 80 e quem nasceu antes do ano 2000 sabe como era tudo mais difícil.

Minha rotina foi quebrada e podemos dizer que meu primeiro dia de nascida foi também meu primeiro meltdown. 

Depois foram situações bem pontuais como a marcha e a leitura precoce e escrita, o interesse por coisas, datas e números. A preferência por intervalos comerciais, gostos peculiares, pesquisas religiosas fora de tempo (a saber Runas antes dos dez anos e outras coisas), não atender pelo nome ou por nomes alternativos, quase nenhum amigo, brincar sozinha.... Até que chegou o antes, o fatídico dia em que perdi meu pai e eu não esbocei luto algum.

Eu estava triste, sabia e sentia dor mas não saia nada. Fiz tudo normal, era temporada de provas e fiz a prova, tudo normal. 

No ano seguinte entrei numa crise prolongada, fiquei mais calada que o normal, minhas notas caíram, eu ganhei muito peso e sim naquele momento a escola deu atenção e foi quando fiz minha primeira terapia. 

Em casa nada mudou, o tempo passou e eu também esqueci de mim. 

Segundo Hiato

Cresci.
Continuava igual mas com constantes cobranças sobre mim e meus interesses. Virei "periguete" pois não tinha interesse real em relacionamentos e não aguentava mais ser cobrada sobre isso. 
Larguei meus hábitos pois odiava ser a "feia inteligente". Eu quis ser popular, mesmo sabendo que eu era sim diferente das outras moças.
Fiz dietas perigosas, me machuquei, entrei em relacionamentos tóxicos, me afastei de todo mundo pois sempre me senti só.
E na verdade eu era sim muito só. 
A família é fundamental para que uma pessoa neurodiversa cresça bem e eu não tive essa base (exceto meu finado pai que me incentivou bastante). Aprendi a me virar e felizmente consegui morar sozinha, o que me ajudou muito pois meu mundo começou a ser construído. 



Diagnóstico

Vale lembrar que nos anos 80 /90 os diagnósticos para autismo eram muito precoces e a Lei Berenice Piana só acontece efetivamente em 2012. 
Fiz terapias sim mas sem laudo concreto, apenas suspeitas, e as crises continuavam ali e ali. 
Já fazendo meu tratamento para epilepsia não tive melhora alguma, meus remédios pareciam água!
Até que voltei a me machucar fisicamente e me diagnosticaram como Borderline. 
Fiz tratamento em vão, nada acontecia.
Uma coisa leva a outra e quando começamos a nos ajudar tudo fica mais claro. Comecei a entender mais sobre mim e criei coragem.
Fiz testes, vários testes e comecei a listar minha vida, tudo o que eu fazia, gostava, sentia, incomodava assim mesmo, sem auto censuras. 
Finalmente cheguei no laudo, minhas suspeitas, minha história de vida, a Medicina Psiquiátrica, a Medicina Neurológica, a Ciência.
Ao contrário do diagnóstico para epilepsia eu não tive susto algum. 
Sabem uma pessoa cansada? 
Pois é, posso falar que meu diagnóstico fez minha alma descansar afinal tudo passa a fazer sentido, eu tive paz enfim. Pela primeira vez na vida eu  não precisava fingir nada, disfarçar nada, forçar nada, pela primeira vez na vida eu pude ser eu depois de tanto tempo!


E Depois?  

Longe de mim dizer que ter diagnóstico é bom. Tem dia que eu não aguento tomar remédios, tudo cansa mas nada é melhor que a verdade.
A bíblia diz e é fato, a verdade liberta.
Quando se tem a verdade nas mãos somos mais honestos conosco. Eu criei coragem de mudar coisas que me faziam mal uma vez que entendi que não era "frescura/ manha/ grosseria/ preguiça" era minha vida e merece respeito.
Ainda dói conviver com o negacionismo familiar mas e daí? Eu me conheço, eu sei de mim, meus médicos sabem de mim e eu estou aprendendo a bastar.

O que eu quero dizer com isso é, se você tem dúvidas corre atrás ainda que sozinho. Não tenha medo de se ver no espelho pois você mesmo se agradecerá depois. 




Glossário e links 


Meltdown: Colapso mental que pode durar horas ou dias, geralmente quando há quebra brusca de rotina ou excesso de estímulos. 


Link sobre meu laudo para epilepsia

Link para teste cientificamente embasado para identificação de traços do autismo em adultos (traduzido do inglês) 








terça-feira, 26 de abril de 2022

Sapos Encantados

 


Oi meus queridos,

A gente cresce com histórias de príncipes, filmes de heróis ou heroínas, amizades a la Os Mosqueteiros e é algo tão enraizado que levamos para nossa vida. 
Quem nunca se imaginou uma Rosie, um Dartagnan, um aluno do Professor John Keating ou ainda um membro de Grinfinória? 
E sabem, imaginar não é ruim, pelo contrário. Faz bem pensar e desejar coisas boas, eu particularmente acredito na energia do movimento e do pensamento. 
Bom nem todo mundo pensa assim e tem muitas pessoas que se valem daquilo que parece mais fraco e, adivinhem só, pessoas com alguma particularidade acabam sendo um belo alvo. 

Por Que? 

Valores internos como segurança e auto estima são formados gradativamente, ninguém nasce se achando lindo ou perfeito. Vamos imaginar um papel?
Quando nascemos somos um papel e todas as nossas impressões irão formar o desenho da nossa vida. Pode ser uma obra de arte se recebemos uma criação amorosa e um ambiente de respeito, pode ser rabiscos ou ainda pode ser borrões.
Quando nosso papel está assim, cheio de borrões, fica difícil identificar aquilo que está na frente e aí os papéis de má qualidade aparecem para compor nosso caderno.
Nem sempre é fácil de perceber, muitas das vezes as atitudes são justamente o contrário e acabamos por pensar que aquela pessoa (amizade, relacionamento, chefias) fará nossa vida melhor mas não. 
Sapos encantados surgem na nossa história onde deveria ser o espaço do final feliz e tudo aquilo, mas eles nos usam contra nós mesmos.
Comportamentos passivo agressivos, imposições, ataques à auto estima, favores financeiros, favores intelectuais, favores patrimoniais, insultos, elogios condicionais ou bajuladores, encontros ou passeios solo... esses e muitas outras atitudes são sinais de que estamos com sapos na nossa história. 
Não é fácil se livrar e para nós neurodiversos identificar é mais difícil ainda.
O que posso dizer é, confie na sua intuição.
Todos nós temos uma voz interna, algo nosso que se incomoda quando algo não vai bem e sabem de uma coisa, é bom ouvir. 
Por mais que hoje em dia se faça memes com "vozes da cabeça" em muitos momentos essas vozes nos dizem para aonde ir, ainda mais se nossa rede de apoio for pequena. 
Não tenha medo de pedir opiniões.
Sei bem que a independência nos é algo caro mas nem sempre isso deve ser prioridade. Nossa prioridade precisa ser nossa paz!
Com o tempo e a observação a tendência é que esses arranjos desarranjados diminuam e não se surpreenda se o número de contatos diminuir também. 
Mas sabem de uma coisa boa? 
Nossos amigos costumam ser os mais sinceros pois tem  que ser assim para andar com pessoas sem filtros sociais como nós.
Se você é neurotípico e veio parar aqui isso também vale para você, nada de borrões nas páginas.
Podemos combinar isso? 
Até a próxima! 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Neurodiversidade e Fé

 


Olá meus queridos, 

Voltei a escrever e estou com "fome" disso! 

Muitas pessoas imaginam que pessoas neurodiversas não possuem crenças próprias pelo simples fato de sermos como somos. 

Não é assim que funciona. 

Óbvio que há casos onde a pessoa não consegue concatenar ideias mas, no geral, conseguimos ter nossas crenças, valores, opiniões.

Influências

Claro que recebemos informações do nosso meio, o tempo todo e é bem orgânico que acreditemos naquilo que nossa família acredita mas nem sempre. 
Em muitas religiões os transtornos neurológicos são vistos como atuação demoníaca, algo que precisa ser retirado, curado e etc. Nesses casos torna-se quase impossível adotar os valores da família, até porquê para termos conforto nos valemos do masking, o que nos cansa, nos sobrecarrega... 
Também podemos falar aqui da aceitação por grupo, identificação, acolhimento social e muitas vezes a pessoa neurodivergente adota o pensamento de manada a fim de se sentir mais confortável.
Já passei por isso. 
Sofri muito bullying na infância, adolescência, não tinha amigos e todas essas coisas que infelizmente nos são bem comuns. Passei pela Igreja Católica, por influência familiar e frequentei a igreja evangélica a fim de ter um grupo, ter amigos, sei lá.
Fiz algumas amizades mas o bullying foi muito maior e vindo de cima!
Sou das pessoas que questiono, amo a Ciência e não acredito em qualquer coisa. Bomba feita rs.
Me meti num curso de liderança e para zero surpresas minhas notas sempre foram as mais altas mas eu nunca passava de nível 

" Seu comportamento não é compatível com a palavra.

Aqui você traduz como "pergunta demais e acredita de menos" e sabem de uma coisa, é verdade. Nunca acreditei naqueles dogmas, nada disso mas queria ter meu aprendizado reconhecido, só um pouquinho. Não recebi empatia  ou compreensão por parte desse lugar e quando eu me sentia sobrecarregada, repetia estereotipias eu era exortada a "vigiar". 
Mas o que me fez sair mesmo foi outra coisa, o preconceito. 
Da mesma forma que eu não gostava de sofrer bullying eu não poderia aceitar que pessoas fossem julgadas por seus endereços e situação financeira. 
Acontece que essa igreja tinha duas unidades, uma ficava em um bairro humilde e a outra era a mais elegante, eu frequentava a mais elegante pois ficava perto da minha casa mas gostava da igreja do bairro humilde pois me tratavam melhor. 
E UM BELO DIA A LIDERANÇA FOI NA MINHA CASA ALERTAR MINHA FAMÍLIA SOBRE AS MÁS COMPANHIAS. 
Pois é. 
Pra mim foi a gota d'água e nunca mais pisei ali, também um alívio pois enquanto eu "acreditava" naquilo eu mentia para mim. Tirei uma lição disso, nenhum encaixe social vale a dor que sentimos quando mentimos para nós mesmos. 
O tempo passou, comecei a morar sozinha, algo que sempre quis, e comecei a praticar em casa o que fazia escondido: Neo Paganismo.
No meu caso foi onde me achei, onde encontrei as respostas e fui aceita como sou o que inclui meu quadro clínico. 
Então, se uma pessoa neurodiversa professar uma crença, por mais que não seja algo rotineiro leve a sério afinal para nós os caminhos são um pouco diferentes. 
Nós consideramos muitas coisas antes de crer, tanto que muitos de nós inclusive são ateus. Certamente se não estivermos num lugar de respeito genuíno podemos até frequentar mas nunca acreditar e outra coisa,  a imposição nos faz detestar.
Acredito que isso seja igual para neurotípicos também. 
Enfim, nossa fé é pautada no respeito e na individuialidade, seja aonde for. 






quinta-feira, 21 de abril de 2022

Nossa, Nem Parece

 Olá, 

Se você nunca ouviu é o porquê falou!

Uma das maiores dificuldades da pessoa neurodiversa adulta ou um pouco mais funcional é precisar se provar todos os dias. 

Como assim?

Bom, para começar não é elogio dizer que não parecemos ter deficiência pois, adivinhem só, não é ofensa ser deficiente!

Vivemos numa sociedade onde é preciso ser perfeito: belo, feliz, bem remunerado, relacionado, com família estabelecida mas não filhos de mais ou de menos, prendado, hidratado... E até o contraponto te leva para o mesmo lugar : natural, analisado, empoderado, carreirista, vários relacionamentos...

De qualquer maneira é uma perfeição por seu real significado.

Onde entramos? 

Honestamente pessoas neurodiversas não ligam para essas engenhocas sociais, dá muito trabalho, cansa, esgota! 

Eu mesmo acho tudo isso muito absurdo, acredito que cada um pode viver bem na sua maneira sem rótulos de manada, é simples e aí é que está, quando pessoas neuro típicas imaginam uma pessoa neurodiversa é imaginado o "perfeito neurodiverso", alguém impossibilitado ou quase isso mas não é assim que funciona. 

Há vários graus, vários transtornos, comorbidades associadas ou não e ainda temos a adaptação, o masking... muita coisa! 

Quando alguém nos diz que não parecemos ser assim ou de outro jeito está dizendo, mesmo sem querer que não parecemos ser quem somos. Nosso quadro clínico faz parte de nós assim como nossa cor, tipo sanguíneo, vínculos familiares, nacionalidade...

É nossa identidade e identidade não é algo perfeito, é individual. 

Até hoje o nosso lugar tem sido o de nos encaixar no mundo, mesmo com todas as ações inclusivas ainda não se planeja a vida pensando numa pessoa deficiente ou neurodiversa. 

Lembram o parágrafo sobre a perfeição?

Então, a vida é planejada para ser perfeita, dentro dos cenários esperados. Uma pessoa deficiente constrói o próprio cenário e, quando consegue ter uma vida ativa, apresenta ao mundo um pouco de como é seu próprio espaço.

Não queremos ser "elogiados" com a nulidade da nossa existência, queremos apenas estar aqui e somar nosso mundo ao de vocês. Não queremos e não precisamos ter cara disso ou daquilo então, se quiser nos elogiar, use adjetivos simples.

Prático não é? 

A Volta

Oi queridos, 

Saudades de escrever, estava apenas vendo uma forma mais acessível e prática de manter o blog afinal, como vocês sabem, eu não sou patrocinada.

Passei muitas coisas nesse meio tempo, muitas mesmo e quero compartilhar isso: 

Encontrei uma vaga de trabalho inclusiva

Isso mesmo! 

Por muito tempo fiz errado, trabalhar primeiro e me enquadrar depois.  A maneira como fui educada me fez esconder minha real situação e escrever me fez entender que não há nada de errado em ser neurodiversa. 

Sou uma pessoa com deficiência e sim sou produtiva, ponto! Entender nossa verdade faz com que sejamos mais sinceros conosco e assim garantirmos uma vida melhor.

Ah sim, estou trabalhando com hotelaria e amando meu job :)

Me Mudei

Bom, além de trabalhar como celetista eu estudo e faço trabalhos por internet (aulas, trabalhos por encomenda...) e eu moro só. Precisava de um espaço mais office e menos home, então estou numa casa menor com meus ofícios e meus bichinhos. 

Tenho Três Filhos

Dois gatos e uma cachorra 

Saí de Uma História Ruim 

É...

O campo dos relacionamentos é algo muito fértil e muito sinuoso para nós. Eu sempre fui sincera comigo em assumir que não preciso de relacionamentos afetivos mas, ainda sim, sabe se la porquê, eu entrei nessa seara novamente.

Consegui me livrar mas deixo o alerta que muitas pessoas se aproveitam das nossas limitações para exercer um comportamento nocivo, posição de vantagem sabem?

Acredito que isso serve para muita gente, infelizmente.

Bem, por hoje e só por hoje é isso. Ainda tem tempo de desejar feliz ano novo? 

É bom estar de volta!!!